Quase todas as pessoas tendem a se autoperceberem como motivadas para a realização. Julgam-se empreendedoras. Mas é claramente necessário ter muita cautela com tais percepções. Afinal,   virou lugar comum se falar todo o tempo do empreendedorismo como o diferencial competitivo indispensável para o sucesso na trajetória organizacional.

O indicador mais relevante de uma atitude centralmente motivada para a realização é daquela pessoa que pensa todo o tempo sobre os meios, caminhos ou maneiras de realizar algo difícil e importante, mesmo em momentos em que está livre para descontrair-se e deixar-se levar por devaneios e que esteja distante e afastada dos temas mais áridos a que se dedica em situações de trabalho efetivo.

Pessoas motivadas para a realização tendem a seguir estratégias peculiares de comportamento por toda a vida. Normalmente gostam de fixar as suas próprias metas e os caminhos para consecução de seus objetivos. Estão sempre tentando realizar algo. Raramente aceitam apenas se deixarem arrastar pelas circunstâncias do cotidiano. Não são figurantes, querem ser protagonistas.

Costumam ser seletivos e bastante ciosos na escolha das metas e objetivos. E, assim, o mais das vezes rejeitam a submissão automática do que lhes pretendem impor, inclusive e amiúde mesmo de suas próprias gerências. Acreditam basicamente em suas motivações e intuições, portanto não procuram nem conselhos nem auxílios, a não ser os dos especialistas ou os de pessoas que efetivamente lhes possam fornecer subsídios que considerem importantes para o que pretendem realizar.

Preferem assumir inteiramente a responsabilidade pela concepção e a execução do que realizam. Se obtêm sucesso, querem para si todos os méritos; se fracassam, não deixam de assumir suas culpas e responsabilidades.

Pessoas efetivamente motivadas para a realização não buscam metas inalcançáveis: nem tão fáceis porque assim não conseguem extrair prazer de sua realização, nem tão difíceis porque não gostam de depender da sorte e das circunstâncias do acaso, mas apenas de suas próprias competências. Avaliam as condições objetivas de realização e esticam o nível de desafio ao limite de suas possibilidades concretas, mas que sejam factíveis, obteníveis, alcançáveis.

Os motivados para a realização preferem tarefas, atividades ou desafios que lhes proporcionem feedback direto e imediato, ou seja, a avaliação dos resultados de seu desempenho pari-passu.Querem saber de tudo todo o tempo, como estão se saindo na realização do que se propõem.Detestam avaliações post-mortem; julgam-se sempre capazes de buscar alternativas de solução dos problemas com os quais se defrontam no cotidiano.

A remuneração tende a ter um papel simultaneamente concreto e simbólico, o que confere à aplicação dos incentivos monetários uma dimensão bastante complexa.

É pouco provável que permaneçam em organizações em que não sejam bem remunerados. Ademais, a remuneração objetiva simbolicamente o reconhecimento da contribuição do realizador por parte da organização. Alimentam-se do reconhecimento dos outros, mas, acima de tudo, de seu próprio auto-reconhecimento da importância e da significância do que realizam. Mas é pouco provável que aumentem ainda mais o seu empenho e dedicação por resultados em decorrência dos incentivos oferecidos. Estão sempre trabalhando em busca da excelência de desempenho, nos limites de suas possibilidades de contribuição. Verdadeiros apaixonados pelo que fazem, dedicam-se com paixão ao trabalho.

Em verdade, os incentivos monetários e símbolos de prestigio tendem a funcionar para a melhoria de desempenho mais efetivamente com pessoas com menores necessidades de realização, pois estas sim buscam estímulos externos para aumentar o seu nível de esforços.Os incentivos salariais e extra-salariais funcionam como baterias exógenas que lhes proporcionam a energia extra para o desempenho. Este não é o caso dos empreendedores: a motivação para os realizadores provem de dentro, de anelos internos, de estímulos endógenos, como se tivessem dentro de si os seus próprios geradores de energia.O que os motiva é o próprio trabalho; o que os desmotiva é a falta de reconhecimento e de auto-realização.

É evidente que a motivação para a realização não é a única fonte e origem da necessidade, quase compulsiva, de consecução de metas e de objetivos, da superação de desafios pelos empreendedores. A busca de satisfação de outras necessidades, muitas vezes até mais elevadas na hierarquia das necessidades humanas, pode também conduzir à realização de níveis de excelência de desempenho. Mas tais circunstâncias não são tão comuns no mundo das organizações empresariais, mas apenas se tipificam melhor em condições especificas no universo da sociedade em organizações não-lucrativas, de benemerência, religiosas, ou assisten tas.

A questão residual que sempre se coloca é como fazer para que a atitude empreendedora, daqueles efetivamente motivados para a realização, possa ser expandida para todos os circunstantes, mesmo para aqueles mais comumente encontráveis que não a possuem de forma tão acentuada?

Talvez a resposta a tal indagação seja bem possível de responder, pois, de forma latente, existem reservas consideráveis e praticamente inexploradas de motivação para a realização no mundo das organizações e no universo da sociedade. É preciso incluir o maior número de dimensões características que liberem o sentido de realização, de contribuição e de participação dos executantes no exercício de funções, tarefas, atividades, competências, atribuições e responsabilidades. E este compromisso de inclusão de enriquecimento do trabalho não pode ser meramente operacional, mas deve ser, acima de tudo, tático e estratégico, peculiar e impregnante da cultura organizacional que se pretende desenvolver. Responsabilidades pessoais e de equipes e de interequipes especificamente definidas ; participações individuais e de grupo na seleção de metas e objetivos de produtividade; definição de metas e de objetivos ambiciosos, mas realisticamente alcançáveis; concessão de feedback claro, imediato e direto sobre os resultados que cada empreendedor se compromete realizar, são todas condições objetivas conducentes à construção de uma cultura organizacional empreendedora.

Muitos métodos de gestão corporativa, de supervisão funcional imediata e de gerência de áreas empresariais são claramente inadequados, muitas das vezes até limitantes e impeditivas da excelência de desempenho.

As metas e objetivos de trabalho não podem ser impostos ao empreendedor: no máximo ele deseja somente uma opinião ou algum subsídio, assim como é muito pouco provável que os fixe abaixo do nível de desempenho que se julgue capaz de alcançar. Diretrizes e controles muito específicos são normalmente desnecessários: a descrição geral do panorama ou do contexto de realização do trabalho costuma ser o bastante; orientações estratégicas e de acompanhamentos ocasionais ao longo do percurso tendem a ser suficientes. Mas se a própria tarefa não contém em si mesma a possibilidade de realização, não adianta dizer para alguém motivado para a realização que executa um trabalho importante se o que faz, em si, é insignificante, insípido e sem sentido. Para o empreendedor é a realização do trabalho em si que o motiva, que desperta os seus sentidos de busca de automotivação e de excelência, e que o leva à derivação de satisfação psicológica pelo que faz e busca alcançar.

O trabalho é, em si mesmo, a fonte e a origem da motivação para a realização. A atitude empreendedora floresce, desenvolve-se e se consolida nos ambientes organizacionais por meio da busca da satisfação da necessidade de realização das pessoas efetivamente envolvidas e comprometidas com aquilo que fazem. O desafio, portanto, é como desenvolver tarefas em si mesmas motivadoras, que ensejem o sentido de realização e de reconhecimentos das pessoas que as executam. O foco no enriquecimento do próprio trabalho é a chave de sucesso na construção de ambientes organizacionais empreendedores, motivados para a realização.

Adm. Wagner Siqueira
Presidente
CRA-RJ Nº 01-02903-7